“Deserto brasileiro”: a paisagem alienígena que floresce no coração do Tocantins
No interior do Brasil, há um cenário que desafia o imaginário: um conjunto de dunas alaranjadas, rios de água cristalina, fervedouros onde o corpo não afunda e uma vegetação que mistura cerrado, chapada e várzea — tudo sob o céu amplo de uma região pouco povoada, mas de beleza arrebatadora. Esse ambiente singular está em plena atividade turística no Jalapão, no estado do Tocantins, e tem chamado atenção como “o cenário mais exótico do Brasil”.
As dunas de areia dourada formam um mar seco que se estende ao alto das chapadas, projetando-se contra florestas baixas e formações rochosas. Lá, os visitantes sobem por escarpas, deslizam por areias finas e encontram o pôr do sol tingirá tudo por tons de fogo. Junto aos rios, correntes transparentes descem e levam visitantes para dentro de fervedouros — poços naturais cujas águas brotam por pressão do lençol freático, criando uma sensação de flutuação quase lúdica. Imagens desses momentos mostram pessoas boiando como se estivessem em espumantes piscinas naturais, sem esforço para se manter à tona.
Mas o Jalapão não se resume a belas paisagens: ele traz uma combinação de silêncio e vastidão que contrasta com os destinos consumidos pelo turismo de massa. A condição de isolamento acentua a experiência de encontro com o ambiente, com a fauna endurecida ao sol, como o lobo-guará e aves que habitam áreas de cerrado conservado, e com comunidades tradicionais que preservam costumes, modos de vida e histórias pouco vistas nos roteiros urbanos.
No eixo de aventura, o Jalapão oferece rafting em corredeiras do Rio Novo, trilhas que levam a cachoeiras escondidas como a que corta uma formação rochosa em queda livre, e noites onde o manto de estrelas parece flutuar num céu completamente limpo. A combinação de elementos – duna, água, cerrado, rocha – permite ao visitante entrar num ambiente que parece “de outro mundo”.
O turismo sustentável aparece como elemento crucial nessa narrativa. O uso consciente dos recursos hídricos e a baixa interferência em ecossistemas sensíveis são princípios que orientam guias e operadoras da região. A interação com a natureza não está pensada numa lógica de explorar ou colonizar, mas de integrar e respeitar. Em múltiplas frentes, o desenvolvimento local busca equilibrar economia, conservação e identidade cultural — porque manter essa paisagem intacta, no fim das contas, é tão importante quanto mostrá-la ao turista.
Há ainda o impacto social: comunidades quilombolas, naturais da região e moradores ribeirinhos conhecem o terreno com intimidade e participam cada vez mais dos roteiros de ecoturismo, oferecendo hospedagens simples, comida regional e narrativas autênticas sobre a região. Esse tipo de visitação gera renda fora dos modelos tradicionais e fortalece laços entre o viajante e o local.
Acontece que, em meio à beleza quase etérea, o desafio persiste: garantir infraestrutura mínima — como estradas acessíveis, serviços de emergência, saneamento básico — sem que o cenário se degrade. A fragilidade desse ecossistema requer atenção constante, sobretudo agora que o interesse cresce e o fluxo de visitantes à região aumenta.
Neste pedaço surpreendente do Brasil, a natureza assina com grandiosidade sua obra-prima. Ver o sol dourar as dunas, deslizar por água translúcida nos fervedouros, escutar o vento mover a areia e deixar a vida urbana para trás: é uma experiência que revela a dimensão real da frase “fora do mapa”. Se buscarmos “o mais exótico” em território nacional, talvez este já se encontre ali, entre as areias, as águas e o silêncio encantador do Jalapão.






